Este ano mais de 170, talvez até chegue a mais o número de pessoas que vão se inscrever para disputar as eleições para uma das 11 vagas de vereador(a) de Cianorte. Mas o que é preciso considerar antes de decidir embarcar nessa? O Bisbi Eleições explica em cinco pontos quais são os desafios de ser candidato(a) a vereador(a) na cidade. Confira:
1. Você não é tão popular assim:
Uma das razões que levam as pessoas a se candidatarem é a percepção de ser conhecido(a). Afinal, se muita gente te conhece, muita gente pode votar em você, certo? Errado.
É muito difícil converter a familiaridade em votos, muito menos converter em votos as conversinhas moles em suas redes sociais e grupos de whatsApp.
Em 2020, tivemos pessoas em Cianorte que juravam fazer votos suficientes para serem eleitos e não levaram nem "meia dúzia". Claro, entre estes há os que desistiram de fazer campanha após o registro, mas há também um bocado de gente que acreditava conseguir conquistar o votos de centenas de conhecidos, amigos, familiares e supostos seguidores de redes sociais e se decepcionou, e são teimosos e vem novamente.
Para se eleger vereador(a) é preciso cerca de 500 a 1500 votos, segundo os dados da última eleição, em 2020. Os eleitos tiveram, em média, 864 votos. Mas houve quem se elegeu com 400 e pouquinhos seguindo as regras eleitorais de 2020.
Nas ultimas eleições municipais de 2020, tivemos em Cianorte nas 187 sessões eleitorais 58.482 votos aptos ao geral.
Já o resultado para vereadores no pleito eleitoral de 2020, tivemos os seguintes números de votos:
TOTAL
43.332 - aptos
VÁLIDOS
39.389 (90,90%)
BRANCOS
1.862 (4,30%)
NULOS
1.490 (3,44%)
ABSTENÇÕES
13.008 (23,09%)
O vereador mais votado em 2020 em Cianorte, teve 1.415 votos - 3.54% dos válidos, e o que se elegeu com menor número teve 414 votos ou 1.04% dos válidos. A média foi de 864 votos entre os eleitos.
Portanto vc que "acha" ter popularidade, se cuide! Popularidade não significa conversão em votos!! Muito menos passar por bonequinho ou bonequinha de Redes sociais...
2. Uma cadeira na Câmara custa muito caro:
Uma das razões para o desempenho ruim de muitos dos candidatos(as) a vereador(a) é a falta de recursos. Fazer uma campanha custa muito caro. Segundo dados das prestações de contas da eleição para a Câmara de Cianorte em 2020 (TSE), cada voto registrado para vereador(a) custou R$ 37,61 na média em recursos de campanha.
Esses valores significam um gasto de pelo menos, R$ 32 mil por uma vaga no mínimo (com base em 2020).
Na hora de convidar novos(as) candidatos(as), os partidos costumam prometer parte desse bolo para as campanhas dos novatos(as). Mas a realidade é que os partidos concentram os recursos nas candidaturas majoritárias (no caso, nos candidatos(as) a prefeito(a)) e em candidatos com maior potencial eleitoral. Em 2020, os candidatos a prefeito ficaram com 70% dos recursos eleitorais em Cianorte.
Para o candidato(a) novato(a) aspirantes a vereador, isso significa pouco investimento do partido e empenho pessoal. O Tamo Junto não reflete a realidade na prática...
3. Partidos não cumprem o que prometem
Se o dinheiro para a campanha vem dos partidos e fundos, qual a chance de você conseguir parte desses recursos? Para novatos, pequena.
Nas últimas eleições os partidos não cumpriram a legislação que determina a aplicação de pelo menos 30% dos recursos em candidaturas de mulheres e agora tentam uma anistia via Congresso Nacional para escaparem das punições previstas.
O cenário mais provável para um(a) candidato(a) novato(a) numa eleição municipal é receber os recursos de campanha na forma de serviço (impressão de santinhos e adesivos, assessoria jurídica, por exemplo), e não em dinheiro.
Num cenário eleitoral em que boa parte das estratégias de marketing convergem para o ambiente digital, acaba sendo contraproducente. Além do mais, para distribuir santinhos e adesivos o(a) candidato(a) precisa participar de eventos, promover encontros, visitar o eleitorado, todas ações que tem outros custos, como o com deslocamento, alimentação, pessoal para fazer registro fotográfico e publicações em redes sociais, e você aspirante a vereador(a) sabe realmente quanto custa tudo isso? Pergunte a quem foi candidato nas eleições de 2020 quanto ele(a) realmente recebeu de seu partido e quanto desembolso de seu próprio bolso.
4. A maior parte dos candidatos serve para eleger poucos:
Como explicamos acima, nenhum candidato eleito se elege com os próprios votos.
Além disso, o partido precisa cumprir a legislação de cotas e de uso dos fundos para evitar punições. Os dados do TSE mostram que a inclusão de mais mulheres e negros nas eleições não se deu pela substituição de candidatos homens e brancos, mas sim pelo aumento do número de candidatos.
Dois exemplos de 2020 - Aconteceu em Curitiba nossa Capital
O PTB, por exemplo, elegeu um vereador: o ex-líder do prefeito na Câmara, Pier Petruziello. Petruziello teve 7495 votos. O partido teve 25.979 votos, o que garantiu a vaga do vereador. A diferença entre os votos dele e os que atingiram o quociente eleitoral veio de 32 outros candidatos(as) da legenda. Petruziello teve R$ 450 mil em recursos para a campanha, a maior parte vinda de doadores Pessoa Física. Os outros candidatos tiveram, em média, R$ 5,6 mil para a campanha.
No MDB, que elegeu Noemia Rocha, a situação é parecida. Rocha teve 4.439 votos. Os outros 21 mil votos que permitiram ao partido ficar com uma vaga na Câmara vieram de 52 outros candidatos da legenda. Rocha teve R$ 110 mil para a campanha, 94% do fundo especial eleitoral. Os demais candidatos tiveram, em média, R$ 4,2 mil em recursos.
Se neste pleito eleitoral de 2024, você candidato(a) novato(a) ganhar uns R$ 5 mil ou R$ 8 Mil de seu partido, fique feliz com isso, será talvez o máximo que ganhará como ajuda para campanha, e corra trabalhar para buscar uma doação privada, corra firme desde agora, pois teremos quase ou mais de 170 pretendentes nessa fila para 11 vagas na Câmara Municipal, e será difícil, diria quase impossível de se fazer 2 candidatos por chapa. Muitos dos já vereadores cianortenses em exercício de mandatos, agora por simples pulada de janela partidária nem deviam mais concorrer em 2024, é uma opinião pessoal deste colunista, já se "mataram sozinhos".
5. Considere as implicações
Quando você decide se candidatar é preciso considerar o que isso significa. Eleito ou não, o candidato tem responsabilidade pelos atos de campanha e todo o resto que uma candidatura implica. Primeiro, ao se registrar candidato, você cria uma nova persona: uma persona pública. Isso implica em:
Seus dados de registro são públicos. Mesmo quando o ex-candidato consegue uma decisão judicial contra o TSE para obrigar o tribunal a despublicar essas informações, essa decisão não afeta os veículos jornalísticos que podem ter republicado elas.
Você é responsável pelas movimentações de recursos da sua campanha. Mesmo que o partido ofereça assessoria contábil, não é aconselhável deixar isso na mão de terceiros. Você precisa revisar e analisar toda a documentação, já que não poderá alegar ignorância depois.
Você será cobrado. Depois de se apresentar à população como candidato, é natural que você acabe procurado pelas pessoas para te cobrar não apenas suas ações, mas as do partido e dos parlamentares eleitos por ele.
Candidaturas “laranjas” podem sofrem punições. Candidatos que se registraram não com o objetivo de disputar a vaga, mas de obter favores e benefícios podem ser enquadradas no crime de falsidade ideológica para fins eleitorais (artigo 350 do Código Eleitoral). As punições possíveis incluem multas, cassação dos direitos políticos e até prisão.
Não seja um candidato que já sai para uma campanha sendo capacho arranjado de prefeito buscando reeleição ou possível futuro prefeito. Você deve pensar realmente se seus interesses são em prol da população ou se você já entra em uma campanha com ideologias voltada para o corporativismo político de um grupo, um partido ou do sistema político local. Pense se você é do tipo que conta mentira para si mesmo!!
Lembre-se que o poder legislativo municipal, estadual e federal, são e devem ser INDEPENDENTES e não OBEDIENTES ao poder executivo. Se você pretende obedecer, fique em casa e não se candidate para vereador(a), talvez obedecer sua esposa ou marido seja até a sua escolha mais conveniente, ou até também não seja, pois quem não tem moral em casa não terá na vida pública...
Boa sorte em sua campanha!!
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