Quando se fala em futebol, todos tem a noção de que torcida e campo são fatores que sempre podem desequilibrar a disputa a favor de quem joga em casa. Faz sentido.
Na política, “quem joga em casa” é quem está no poder. São muitas vantagens a serem direcionadas a favor de seus interesses; verbas, cargos e até destinação das obras que sempre ampliam a capilaridade do grupo da situação. Mas, a transformação destes fatores em ativos eleitorais não é automática, exigindo competência para capitalizar e promover a alquimia que os reverta em votos.
Foto: Silvio Barros
A regra básica da política partidária é escalar um time para governar, quando se vence as eleições, com finalidades distintas; administrar com eficiência, quando possível, mas buscando uma soma de redutos eleitorais que resultem em maioria eleitoral. Traduzindo; cargos precisam ser devolvidos em votos e apoios.
Em Maringá, a situação não conseguiu fazer a lição de casa. Os sete anos dividindo espaço com grupos próximos, principalmente dos deputados Do Carmo e Jacovós, não foram suficientes para somar forças em torno de candidatura única, para os quais poderiam convergir votos que permitissem um conforto eleitoral suficiente para garantir mais um mandato para o grupo. Talvez até nem seja o principal objetivo das lideranças, já que eleição tem a cada quatro anos ......
Com o início do processo eleitoral, a situação se dividiu entre a candidatura oficial, do vice-prefeito Edson Scabora, ainda que sofra com a sombra do sempre bem votado Flavio Mantovani e o ensaio das candidaturas de Do Carmo e Jacovós. Seria muito razoável imaginar que, em algum momento, o prefeito cobraria fidelidade e retorno aos espaços de poder compartilhado que ajudaram a alavancar as campanhas dos parceiros. Todavia, ambos optaram por testar seus nomes no período eleitoral, até estimulados pela falta de tradição eleitoral do candidato escolhido. É razoável supor que ambos acreditassem que, com mais apelo eleitoral, e maior expectativa de vitória, em algum momento poderiam se tornar os nomes preferenciais.
Embora Do Carmo mantenha sua disposição de concorrer, Jacovós já jogou a toalha e abraçou a campanha do lado oposto, atravessando a fronteira política municipal e aderindo à oposição de olho nas eleições de 2026. É justo frisar que ambos são da base do governador, mas foram preteridos pelo candidato da sigla oficial, o mesmo Scabora após o abandono da barca emedebista, e também no município onde teriam, apenas em avaliação preliminar, melhor largada que o vice-prefeito.
Lógico que as eleições nem começaram, mas qualquer neófito em política percebe que no jogo de bastidores, a goleada foi tão impiedosa quanto os números das últimas pesquisas. A situação não somou nenhuma das lideranças com as quais compartilharam o poder pode sete anos e ainda perdeu uma delas que mudou de lado.
Ninguém sabe ainda qual a prioridade da situação; 2024 ou 2026 e sem esta resposta fica difícil avaliar se as últimas jogadas foram desastrosas ou estratégicas. Mas, na disputa municipal, Silvio Barros fica mais cacifado para tentar fechar a conta no primeiro tempo.
Todo mundo sabe que política não é ciência exata porque uma infinidade de fatores concorre para alterar o humor da população, a saúde do seu bolso e tantos outros aspectos que interferem na decisão eleitoral, mas, estritamente no jogo de dois polos, a oposição municipal abre uma frente confortável embora a disputa inicial não seja contra um único adversário, mas contra a soma de todos eles.
O tabuleiro ainda abre espaço para outras candidaturas, uma delas, de Humberto Henrique pelo PT, que olha para a marca lulista de 2022 como alvo que o projeta para uma disputa no segundo turno, Ninguém sabe exatamente qual o tamanho da fidelidade petista, embora todos saibam que é menor que o contingente lulista, todavia o histórico informa que acima de 20% qualquer candidato é competitivo e qualquer deles atingindo 25%, o segundo turno é inevitável e, como sempre, zera o jogo e exige outra avaliação eleitoral e política diferente.
Quanto aos demais candidatos, cuja meta segue incerta, o desafio é ainda maior porque lhes será exigido capacidade para se sobrepor à polaridade local e ao jogo ideológico nacional. Se o objetivo é mostrar a cara para cacifar 2026, pode ser bem interessante, mas se o desejo é o paço municipal, o caminho é cheio de obstáculos.
Importante registrar que a campanha em Maringá, assim como nas outras grandes cidades, a armação dos grandes partidos tem foco fixo na majoritária de 2026. Como governador olhando para a cena nacional, o cacife da disputa local se reduz e passa a ser atraente para muito mais players que podem apostar em qualquer das quatro vagas majoritárias, incluindo a vice, e se valer da mesma estratégica, deixando a definição em aberto a ser revista pela nova composição de forças resultante das urnas municipais.
Ainda é um jogo aberto, mas as escalações que começam a vazar dos bastidores informam que a oposição começa com a bola nos pés e, com um mínimo de competência, pode, ainda no primeiro tempo marcar os gols necessários para vencer o jogo.
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